é no âmago das cerejas
Dia Mundial da Poesia
Palavras que brotam das árvores numa Primavera “sui generis”.
Programa:
Dia 21 Sábado, Jardim da Avenida Júlio Graça
Apresentação durante o dia da instalação poética
De meia em meia hora será transmitida a peça musical e poética dez passos depois das árvores
23 horas, junto ao coreto do mesmo jardim
leitura poética dez passos depois das árvores
com o Colectivo Silêncio da Gaveta e o compositor convidado Eduardo Patriarca
Foi devagar
23-01-2009
Do que tenho ouvido
Naquele dia tinha tempo. Sentou-se frente ao espelho e resolveu regressar ao corpo abandonado.
Há muitos anos atrás despira-se dele como se o achasse um adereço inútil.
Quase se esquecera de que lhe pertencia e de que poderia usá-lo como lhe apetecesse.
Mas naquele tempo não lhe apetecia, ou então, não sabia como lhe apetecer. Sentia-se uma estranha para si própria.
Ao olhar para trás, poder-se-ia dizer que era alguém que estava sempre ausente.
Um vulto que aparecia de quando em vez e depois desaparecia sem deixar rasto.
Sentia-se assim. Um ser que não fazia diferença.
Era como se existisse apenas na imaginação de alguns que por vezes se apercebiam da sua imagem.
Talvez tivesse medo de ser, de se tornar demasiado viva para ela própria.
Queria sair daquele fim do mundo e ao mesmo tempo fechava todas as portas que ia encontrando pelo caminho.
Lá dentro, da alma e do corpo, sabia muitas coisas. Sabia que algures existia um lugar dentro de alguém onde era possível sonhar sem que houvesse sempre uma nuvem triste a pairar...
Era Outono e, em todos os tons de castanho dourado que se reflectiam no espelho, podia ver que o tinha encontrado.
Era como se de repente pudesse ver o cabelo a crescer, acompanhando atentamente todos os cambiantes daquele percurso tão seu.
Agora tinha quase tudo e quase nada.
Pelo rio abaixo, caminhando devagar, fora atirando pedaços de tristeza que guardara em tempos de maré vaza. De certo modo estava a libertar-se de uma pele que não lhe servia para poder mergulhar numa nova descoberta. Já podia olhar para ele e encontrar todos os pedacinhos de vida que perdera.
Naquele dia tinha tempo e continuou a olhar-se ao espelho. Chovia devagar e parecia que tudo se diluía em câmara lenta. Deixou-se voar até ao seu aconchego e, embora a chuva insistisse em lembrar-lhe Veneza naquela noite de nostalgia, não se sentiu só.
Estava quente e apetecia-lhe sorrir. Finalmente tinha sentido o seu corpo. Percebia agora o significado da pele, a emoção de percorrê-la com as mãos, muito lentamente, para preencher todos os espaços com a mesma ternura.
Sentia agora o desejo de envolvê-lo num abraço apertado e beijá-lo como se estivesse a morder o sol. Naquele dia tinha tempo e apetecia-lhe…
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