A partir de hoje publicarei algo que escrevi há muito tempo.
É uma espécie de estória que irei publicando diariamente.
Naquele dia tinha tempo. Sentou-se frente ao espelho e descobriu outra pessoa.
Não tinha bem a certeza se era ela própria ou se o oposto da sua imagem.
De qualquer forma reconhecia os traços que só nós próprios sabemos.
Tinha chegado ali, num dia qualquer. Talvez num breve momento de encanto.
Foi como se subitamente tivesse avistado um lugar para se abrigar da tempestade com o sol de outro sentir.
No coração depositou o espanto das pequenas verdades. Da verdade de uma tristeza demasiado pesada para o seu corpo frágil, da verdade de nunca ter tido um final feliz para todas as histórias que vivera, da verdade de todas as coisas parecerem fugir-lhe das mãos quando pensava que daquela vez seria diferente.
Há quem diga que temos de lutar por aquilo que queremos, há quem diga que as coisas só acontecem se formos ao encontro delas e também há quem diga que tudo é possível. Até aqui ela compreendia. Nunca tivera medo de lutar até já não poder mais. Mas nessas lutas esqueceu-se de algo que talvez tenha sido o entrave da sua vida. Esqueceu-se dela, esqueceu-se de que nessa luta em que tanto dava, recebia... o quê? E, como já alguém se interrogou vezes sem conta:
“Para quê?”
Sim, para quê?
Para que ninguém pudesse dizer-lhe que é egoísta? Para sentir o que os outros sentem?
Tantas perguntas naquela mão tão pequena! Um leque de questões para meditar quem se achar com coragem para desbravar floresta tão insólita.
Tantas perguntas sem resposta, tantos dias sem rumo. Tantas súplicas ignoradas!
(continua)