Naquele dia tinha tempo. Sentou-se frente ao espelho e observou o sentido daquele rosto cansado.
Tinha ouvido imensas coisas, tinha dito tantas coisas! Parecia que ela não percebia, que não via como ele estava a sofrer. Achou que de repente ela tinha envelhecido, que tinha ficado demasiado séria e que já não sabia brincar. Ela, por seu lado, aguardava pacientemente. Sabia que com estas coisas não se pode brincar e que qualquer palavra que lhe dissesse estaria errada. Não valia a pena sentar-se frente a ele e mostrar-lhe que estava ali, que as palavras que ele lhe dizia tinham retorno. Era como se o feitiço se tivesse virado contra o feiticeiro. Recusava-se a deitar a cabeça e a dizer que estava cansado, recusava-se a deitar-se e dormir um sono descansado. Recusava-se até a tocar-lhe a mão como antes fizera. Ela sentiu a falta disso, a falta desse tão pouco que lhe parecia tanto.
Para ele até podia ser que esse gesto fosse apenas mais uma forma de descansar a mão, uma simples questão de lugar. Para ela tinha o significado da ternura, o simples segurar-lhe a mão para que ela não caísse.
Naquele dia ficou triste, sentia que tinha perdido algo, um pequeno nada que poderia ser tudo. Não chorara naquele momento porque aprendera que há lágrimas que só podemos chorar para nós próprios. Aprendera a guardá-las por muito que isso a fizesse sentir-se perdida, e regressar ao canto sereno da loucura em tempo de navegar contra a idade. Calara-se. Não queria perturbá-lo ainda mais.
Amava-o da forma que ele era porque se reconhecia naquele jeito de ser, naquele constante tudo e nada querer.
De vez em quando tinham vários dias de alegria, momentos sem sombra de tristeza. A vida era mesmo assim, uma constante inconstância.
Se assim não fosse, se ela não entendesse todas estas coisas, porque ficaria pensativa?
Porque continuaria a esperar pacientemente que ele regressasse daquele mar de solidão?
A partir de hoje publicarei algo que escrevi há muito tempo.
É uma espécie de estória que irei publicando diariamente.
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